O segundo dia de XI CONOJAF em Teresina (PI) foi iniciado, nesta quarta-feira (05), com a palestra sobre Assédio Moral e Suicídio – Prevenção e Pósvenção. A palestra foi proferida pelo psicólogo Joaquim Rodrigues de Morais Netto, também voluntário do Centro de Valorização da Vida de Teresina.
Antes da explanação, a diretora de comunicação e informática da Fenassojaf Paula Drumond Meniconi explicou que a ideia de se incluir o tema ‘suicídio’ na programação do XI Congresso Nacional partiu da necessidade de o quanto é difícil abordar esse tema “e até mencionar a palavra suicídio”. Paula disse que o que a chamou a atenção foi um post do Oficial de Justiça Ivo Farias que dizia que “o filho de perde o pai é órfão, que a mulher que perde o esposo é viúva, mas o pai que perde uma filha não tem nome”.
Por fim, a diretora da Federação convidou os participantes a refletirem e falarem sobre o tema.
Na sequência, o presidente da Assojaf/PI Donato Barros Filho chamou a atenção para o cotidiano rodeado de pressões que afeta indiretamente todas as pessoas. Donato esclareceu que, quando da concepção da programação do XI CONOJAF, sentia faltava um tema humanístico. “Este é um Congresso que irá abordar a questão do ser humano e da nossa função de uma maneira sutil. Essa é a proposta, que façamos um Congresso diferente, que possamos discutir essa questão humanística e olística que atinge a todos”.
ASSÉDIO MORAL E SUICÍDIO
O painelista Dr. Joaquim Netto iniciou explicando que todas as pessoas são de pertencimento, “pois nós pertencemos àquilo que nos propomos a fazer”. De acordo com ele, esse olhar mais participativo está encontrando espaço e novas aberturas sobre o tema são muito importantes. “O Setembro Amarelo também tem essa função de incluir o tema em diversos debates”.
Sobre o Assédio Moral, o psicólogo afirmou que a prática é tão antiga quanto o trabalho e faz o servidor sentir-se ofendido, menosprezado, rebaixado, inferiorizado. “É a exposição dos trabalhadores a situações humilhantes e constrangedoras. Um ato isolado de humilhação não é assédio moral, é necessário uma repetição sistêmica da prática”.
Segundo o psicólogo, quem vira refém do trabalho e essa relação se torna danosa, trazem como consequência diversas reações, dentre elas, o surgimento de ideias suicidas e tentativas de suicídio.
Dados estatísticos apontam que mais de 800 mil pessoas no mundo tiram a própria vida por ano. É a segunda maior causa entre jovens de 15 a 29 anos. Cada suicídio tem impacto em, pelo menos, seis pessoas. No Brasil, a média é de 11 mil pessoas que cometeram o suicídio, sendo que entre 2011-2016, foram mais de 176 mil lesões autoprovocadas. A maior tentativa está entre mulheres, mas os homens são os que mais morrem por suicídio.
Dr. Joaquim apresentou os sinais de alerta para o suicídio, tais como, mudanças bruscas de comportamento, tristeza profunda, afastamento social, perda de prazer em atividades que anteriormente geravam prazer.
“A prevenção está em conhecer, falar a respeito, conhecer a si mesmo e pedir ajuda. Expressar é o primeiro passo para elaborar e ampliar a perspectiva e percepção”, disse.
Sobre a posvenção, o panelista explicu que o suporte ao luto e a prevenção aos enlutados também fazem parte de todo o processo que envolve o suicídio. Existem grupos de apoio e tratamento especializado que ajudam os enlutados e também aqueles que tiveram o suicídio frustrado.
Participante do debate, o vice-presidente da Fenassojaf Isaac Oliveira chamou a atenção para a carga de negatividade que envolve o Assédio Moral, uma vez que é a consequência da submissão. O Oficial de Justiça explicou que o estudo do Assédio Moral partiu do questionamento das causas relacionadas ao número de casos de suicídio na área de saúde na Suécia. “Se o suicídio é a principal causa do assédio moral, o que nós, enquanto servidores públicos, estamos fazendo com relação a isso?”, questionou.
Para Isaac, é importante que os tribunas emitam regulamentações internas que, além de estabelecer formas de como se vestir ou comportar, trate do Assédio Moral no Poder Judiciário. “Os servidores precisariam assinar um termo, notificando sobre possíveis consequências para a prática do assédio nas relações de trabalho”.
Ainda de acordo com ele, muitas vezes, as pessoas não percebem que estão na cadeia do Assédio Moral, pois ele começa com questionamentos sobre a competência das atividades prestadas. Os traumas causados no assediado são os mesmos de vítimas de assaltos a mão armada. “O problema é que em um assalto a mão armada você pode nunca mais encontrar o assaltante. Já no caso do Assédio Moral, você encontra o assediador no outro dia”.
Por fim, o Oficial de Justiça aposentado do TRT da 2ª Região Ivo Oliveira Farias, enlutado do suicídio, contou que, em 2014, a filha mais velha dele foi vítima de suicídio. “A pessoa sempre é vítima de um suicídio”, enfatizou. Ivo contou que a forma como encontrou para prosseguir existindo, “porque vivendo não mais”, foi frequentar grupos de apoio. O aposentado explicou que o suicídio é chamado de tragédia silenciosa, uma vez que ninguém fala sobre o tema. “É um luto que coloca culpa e vergonha, pois o ente querido preferiu se suicidar ao ficar do lado daqueles que o amavam. E os que ficam, têm culpa por não terem percebido os sinais e também por não fazerem nada para evitar a tragédia”.
Ivo alertou que a pósvenção, assim como a prevenção, também é importante, pois é preciso cuidar daqueles que ficam. É preciso aprender a continuar vivendo e “eu fiz essa escolha. A militância sindical me preparou para essa decisão de abrir mão do anonimato e eu, logo nos primeiros meses, tomei essa decisão e comecei a fazer algo que nunca foi feito antes: comecei a falar sobre o assunto na imprensa”.
No encerramento, o Oficial de Justiça enfatizou que a conscientização está fazendo com que as pessoas falem abertamente sobre o suicídio. “Hoje nós estamos verbalizando a palavra. Essa é a minha militância agora, a militância pela vida”, finalizou.
A continuidade do debate sobre Assédio Moral e Suicídio acontece nesta quinta-feira (06), quando os participantes do XI CONOJAF terão Roda de Conversa com o tema. A atividade acontece a partir das 9 horas.
De Teresina (PI), Caroline P. Colombo
InfoJus BRASIL: Com informações da Fenassojaf