O portal InfoJus Brasil publica artigo do oficial de Justiça Hebert Mendes de Araújo Schütz (foto) da Comarca de Rio Verde/GO que trata da Criação de unidade de conservação Tovacuçu em Itajá (GO) como forma de preservação dos fragmentos florestais.
O objetivo primordial da pesquisa é identificar áreas prioritárias no Estado de Goiás, principalmente em atenção à expansão em áreas de plantio de cana-de-acúcar e soja, como no caso do Refúgio de Vida Silvestre Tovacuçu, em Itajá-GO – à espera de ato administrativo de criação - bem como demonstrar os desafios e perspectivas das políticas de gestão ambiental para esta e outras áreas prioritárias.
Hebert Mendes de Araújo Schütz é Oficial de Justiça do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, mestre em Direito Agrário e doutorando em Geografia pela UFG.
Confira abaixo a íntegra do artigo.
CRIAÇÃO
DE UNIDADE DE CONSERVAÇÃO TOVACUÇÚ EM ITAJÁ-GO COMO FORMA DE PRESERVAÇÃO DOS
FRAGMENTOS FLORESTAIS
1. INTRODUÇÃO
A legislação ambiental brasileira demonstra
uma grande preocupação com a defesa das florestas frente a degradação
ambiental, por representarem um inestimável valor econômico, a defesa das
riquezas nacionais, defesa da ecologia. Tal legislação foi consolidada com
mudanças profundas e estabelecimento de uma política nacional para o meio
ambiente com princípios e objetivos bem definidos.
Em 1981, com a criação do Conselho Nacional
do Meio Ambiente – CONAMA, e o Sistema Nacional de Meio Ambiente – SISNAMA,
houve um empenho dos governos em cuidar e garantir essa política de proteção
ambiental. Superadas as fases de evolução e consolidação, a legislação
ambiental a partir da Constituição de 05 de outubro de 1988, entrou num período
de aperfeiçoamento. O tratamento dado ao meio ambiente pelo constituinte
colocou o país na linha de frente, junto aos países mais desenvolvidos
mundialmente (MAGALHÃES, 1998).
Todavia, foi na Constituição de 1934 que a
legislação ambiental passou a ser mais abrangente: vieram a lume o Código
Florestal e o Código de Águas. Neste mesmo ano, foi realizada no Rio de Janeiro
a I Conferência Brasileira para a Proteção da Natureza, evento importante pela
sua repercussão em matéria de preservação ambiental. O primeiro Código
Florestal foi um instrumento altamente conservacionista, elaborado por pessoas
de grande gabarito e conhecedoras da realidade ambiental brasileira. Este
Código Florestal foi realmente, uma peça exemplar e bastante avançada para a
época, pois fazia severas restrições à propriedade privada, num momento em que
o direito de propriedade ainda gozava de privilégios garantidos pela
Constituição e pelo direito privado.
Na década de 30, ocorreram outros eventos de
importância ambiental, como a criação, em 1937, do Primeiro Parque Nacional do
Brasil, o de Itatiaia, e, dois anos mais tarde, em 1939, foram criados outros
dois: o de Iguaçu e o da Serra dos Órgãos. Na década seguinte, o Brasil
participou da Convenção para a Proteção da Flora, Fauna e das Belezas Cênicas
Naturais dos Países da América, a qual foi aprovada pelo Decreto Legislativo nº
3, de 1948 (WAINER, 1991).
Essa Convenção merece destaque pela matéria
nela tratada, como, por exemplo, a definição de Parques Nacionais, Reservas
Nacionais, Monumentos Nacionais e Reservas de Regiões Virgens, proteção às aves
migratórias e de espécies ameaçadas de extinção, bem como importação,
exportação e trânsito de espécies protegidas da flora e fauna. Nessa esteira, a
legislação ambiental continuou evoluindo e tornou-se mais sólida, em razão de
uma consciência conservacionista já bem evoluída, que influenciou a concepção
de um Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), isto é, um tipo de
áreas protegidas no espaço brasileiro.
É de ser relevado, que a Constituição Federal
de 1988, em seu art. 225 diz: “Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”
Por esse preceito, observa-se que o
meio ambiente é um direito de todos e preservá-lo é um dever imposto à
coletividade e ao Poder Estatal. A par disso,
o processo de elaboração e negociação desse Sistema durou mais de dez anos e
gerou uma grande polêmica entre os ambientalistas.
O
resultado (Lei nº 9.985/2000), significou um avanço importante na
construção de um sistema efetivo de áreas protegidas no país. Aliado ao sistema
de defesa ambiental surgiu a tecnologia do sensoriamento remoto para obtenção
de imagens e dados da superfície terrestre através da captação e registro da
energia refletida/emitida pela superfície sem que haja contato físico entre o
sensor e a superfície estudada. (Avery e Berlin, 1992).
2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DESTINADA À UNIDADE
DE CONSERVAÇÃO
A
área em estudo é a tão esperada Unidade de Conservação Parque Estadual
Tovacuçu, objeto de estudo da presente pesquisa, também idealizada
posteriormente como Refúgio de Vida Silvestre entre os Municípios de Itajá e
Aporé, fruto de estudos financiados pela FUNAPE (Fundação de Apoio à Pesquisa
da UFG) em contrato com a SEMARH (Secretaria de Meio Ambiente e Recursos
Hídricos do Estado de Goiás), atual SEMAD, pelo Contrato nº 017/2012.
A
área prevista para o parque no município de Itajá comtempla áreas florestais
exuberantes, sendo estas predominantes localizadas das encostas dos morros
mantendo certa continuidade. A área está localizada a oeste da cidade de Itajá,
com 177,39km², que representa 8,48% da área do município.
As
características do meio físico da área em questão revelam fragilidade da
superfície aos processos erosivos, principalmente em áreas campestres, em
função de seus solos muito arenosos e do pisoteio do gado.
Destaca-se
que na área rural do município de Itajá, a densidade demográfica é de 0,63
hab./km² (IBGE, 2010). Essa realidade não é muito diferente na área prevista
para o parque, na qual existem grandes propriedades (fazendas), que apresenta a
pecuária bovina como ocupação dominante.
Conforme
o relatório final da equipe técnica, a área denominada Tovacuçu– Grallaria varianome de um pássaro
endêmico de mata atlântica - está entre os municípios de Itajá e Aporé, no
extremo sudoeste do estado de Goiás, perto da divisa com o estado do Mato
Grosso do Sul, da qual a maior parte dos resultados apresentados no estudo se
referem a remanescentes florestais presentes na Fazenda São Miguel, Itajá,
Goiás, onde predomina trechos significativos de floresta primária, dentro do
contexto fitofisionômico denominado de Floresta Estacional Semidecidual.
Figura
1. Localização da Unidade de Conservação
Tovacuçú em Itajá, Goiás. Coordenadas geográficas: 180 53' 59.50''
Sul e 510 35' 47.79'' Oeste). Fonte: Google Earth©.
Figura
2. Alguns pontos amostrais de de fauna dentro
dos fragmentosem Itajá, Goiás. Coordenadas geográficas: 180 55'
46.9'' Sul e 510 40' 04.2'' Oeste). Fonte: Google Earth©.
O
estudo da FUNAPE teve o objetivo de avaliar a biodiversidade presente dos
componentes da fauna (entomo, ictio, herpeto, avi e mastofauna), da flora e
aspectos gerais do meio físico e sócio-econômico para subsidiar a criação de
uma unidade de conservação do grupo de proteção integral e que incluísse
remanescentes originais dentro do domínio da Mata Atlântica no Estado de Goiás
(SEMARH, 2013).
3. OBJETIVOS DA PESQUISA NA FAZENDA SÃO
MIGUEL – ITAJÁ GO
O
objetivo primordial da pesquisa pretendida é identificar áreas prioritárias no
Estado de Goiás, principalmente em atenção à expansão em áreas de plantio de
cana-de-acúcar e soja, como no caso do Refúgio de Vida Silvestre Tovacuçu, em
Itajá-GO – à espera de ato administrativo de criação - bem como demonstrar os
desafios e perspectivas das políticas de gestão ambiental para esta e outras
áreas prioritárias.
Ademais,
pretende-se ainda realizar um diagnóstico sobre o meio físico, dando ênfase aos
diferentes tipos de uso do solo e as principais características naturais do
entorno da Fazenda São Miguel e Realizar um levantamento sócio-econômico da
região, incluindo as sedes municipais de Itajá e de Aporé.
Assim,
para existir um meio ambiente ecologicamente equilibrado, tanto para a atual
geração quanto para as futuras, é necessário que se opere a defesa, preservação
e recuperação através de uma gestão eficaz do que ainda resta do patrimônio
vegetal e animal, cada dia, mais explorados e degradados.
E
a correta gestão em prol da criação de Unidades de Conservação diz respeito,
portanto, “à mobilização político-administrativa para articular e alocar
recursos e esforços para tentar solucionar dado problema coletivo” (PROCOPIUCK,
2013).
A exploração exacerbada do meio
ambiente com prejuízos sistemáticos à fauna ameaçada de extinção resulta não
apenas o seu decréscimo, mas efeitos nocivos que afetam o ecossistema, entre
outras consequências.
No
presente ideal de tese, o meio ambiente como bem jurídico protegido é similar à
vida humana, por muitas razões, indisponível, e deve ter prioridade no
balanceamento da gestão ambiental. Dessa forma, a análise do tema possibilita reunir
informações no ordenamento respectivo e bibliografia, permitindo a eficácia dos
atos administrativos de criação das Unidades de Conservação, para orientar a
sociedade, empresas, proprietários rurais e colaborar com a efetivação da
educação ambiental.
Diante dessa premissa onde se amplia
a preocupação com a conservação e recuperação da fauna e da flora ameaçada de
extinção, vislumbra-se que a criação de Unidades de Conservação no Estado de
Goiás é assunto de interesse atual e ampla relevância, resultando em uma maior
preocupação quanto a gestão eficaz para garantir a plena proteção do meio
ambiente.
A identificação e criação de áreas
prioritárias de gestão da biodiversidade no Estado de Goiás pela tecnologia do
sensoriamento remoto constitui uma ferramenta setorial fundamental para as
estratégias ambientais dentro da perspectiva de sustentabilidade e conservação.
Para
tanto, ao iniciar esse estudo de tese verificou-se que o Instituto
Internacional de Educação do Brasil (IEB) lançou o Fundo de Parceria para
Ecossistemas Críticos (CEPF) do Cerrado, um projeto para conservação deste
bioma, com duração prevista de cinco anos, o programa tem o objetivo de
preservar o bioma, sua fauna e sua flora. (Franco, 2016)
A
iniciativa, que recebeu recursos de US$ 7 milhões, deve ir até julho de 2021.
Segundo o IEB, o fundo é administrado pela Conservação Internacional, que tem
como parceiros a Agência Francesa de Desenvolvimento, o Banco Mundial, a
Fundação John D. e Catherine T. MacArthur, o Fundo Mundial para o Meio Ambiente,
o governo do Japão e a União Europeia. (Franco, 2016)
Veja,
por óbvio, que o estudo tem como problema a seguinte interrogativa: Quais os
desafios e perspectivas para melhorar o processo de identificação e criação de
Unidades de Conservação no Estado de Goiás frente a degradação ambiental?
O
presente estudo persegue o objetivo geral de facilitar a sustentabilidade
através da delimitação de áreas prioritárias com fim de melhorar a sistemática
das gestão ambiental e transformar as áreas em Unidades de Conservação.
Especificamente
busca-se demonstrar o histórico e problemas na criação de Unidades de
Conservação, com vistas a melhorar esse processo; promover ações de proteção e
conservação do meio ambiente; promover ações de regeneração em áreas com problemas
do tipo ambiental; avaliar as ferramentas para o planeamento e ordenamento do
território que promove a conservação do meio ambiente em áreas prioritárias;
identificar os habitats estratégicos com objetivos de conservação.
No
presente caso, para uma genuína contribuição ao conhecimento científico, a
pesquisa será sistematicamente baseada em hipóteses fundamentadas na teoria da
educação ambiental de Enrique Leff.Segundo (LEFF, 2001), o saber ambiental
produz novas significações sociais, novas formas de subjetividade e
posicionamentos políticos ante o mundo.
Trata-se
de um saber ao qual não escapa a questão do poder e a produção de sentidos
civilizatórios. Assim, a tese se firmará dentro do contexto das ações sociais e
saberes individuais e compartilhados, dentro de projetos políticos de
construção social.
O
referencial teórico de Leff evoca temas como complexidade, sustentabilidade,
racionalidade, cultura, sociologia do conhecimento e ética. Tais argumentos
buscam deslocar a educação ambiental como exclusiva das ciências naturais e
impulsionará na presente pesquisa a efetiva compreensão da política da
diferença e de colocar-se no lugar do outro para transformar o saber.
3.1 Aspectos climáticos
A região apresenta invernos secos
(abril a setembro) e verões chuvosos (outubro a março), ou seja, tropical
chuvoso (Aw), baseado na classificação de Köppen (1918). As médias anuais das
regiões de savanas são de precipitações em torno de 1500 mm, concentradas mais
nos meses chuvosos de outubro a março (MARIANO, 2005). *
As médias e desvio-padrão mensais
de precipitação pluviométrica resultante da série histórica (1973-2012) da
estação pluviométrica de Itajá foram obtidas e podem ser visualizadas no
gráfico (Figura 3). A média anual da precipitação pluviométrica encontrada para
estação foi de 1486±253mm. O regime de precipitação pode ser visualizado no
gráfico, em que dos meses de outubro a abril é o período chuvoso com 190±109mm
e os meses de maio a setembro é período seco com 34±41mm.
Figura 3
– Precipitação média mensal da estação pluviométrica de Itajá, período
19732012.
Fonte:
Agência Nacional das águas, 2012.
Os meses mais chuvosos são dezembro e janeiro e os meses
mais secos são julho e agosto. Nos meses mais secos como pode ser observado no
desvio-padrão tem a possibilidade de não ocorrer precipitação pluviométrica
dependendo da circulação atmosférica. Os primeiros meses chuvosos tendem
infiltrar boa parte do volume precipitado e na medida em que ocorre a saturação
do solo aumenta o escoamento superficial. Portanto, os meses mais chuvosos e os
finais desse período podem agravar os processos de erosões do solo.
3.2 Hidrografia
A
principal bacia hidrográfica, de acordo com a proposta de limite do Parque/UC,
é a bacia hidrográfica do Ribeirão Grande, que apresenta como afluentes os
córregos Sapé, Frieira na margem esquerda e Córrego Pontal Sujo na margem
direita. O Ribeirão Grande é afluente do rio Corrente, que por sua vez deságua
na Bacia do Paranaíba. A bacia hidrográfica do Ribeirão Grande possui
151,52km², sendo 122,91km² (81,12%) na área do Parque/UC. No limite leste estão
também as sub-bacias do Córrego Contenda, Córrego Bocarra, Córrego Grande
pertencentes a bacia do rio Corrente e somente Córrego Fazendinha é componente
da bacia do rio Aporé. As medidas de vazão realizadas indicam uma menor recarga
subterrânea para o Ribeirão Grande em relação Córregos Sapé e Fazendinha. Enquanto
para a bacia hidrográfica do Ribeirão Grande a recarga foi de aproximadamente 5
litros/s/km², nas bacias hidrográficas dos Córregos Sapé e Fazendinha foi mais
de 10 litros/s/km².
Tabela 1
– Medidas hidrológicas realizadas nos pontos de coleta nos principais
tributários
Ponto
|
Córrego
|
Largura (m)
|
Profundidade (m)
|
Velocidade (m/s)
|
Vazão (m³/s)
|
P1
|
Ribeirão Grande 1
|
2,75
|
0,14
|
0,37
|
0,13
|
P2
|
Ribeirão Grande 2
|
4,75
|
0,22
|
0,32
|
0,31
|
P3
|
Ribeirão Grande 3
|
9,25
|
0,18
|
0,33
|
0,50
|
P4
|
Córrego Sapé
|
2,65
|
0,13
|
0,47
|
0,16
|
P5
|
Afluente RB
|
S.M.
|
S.M.
|
S.M.
|
S.M.
|
P6
|
Córrego Pontal Sujo
|
S.M.
|
S.M.
|
S.M.
|
S.M.
|
P7
|
Córrego Bocarra
|
S.M.
|
S.M.
|
S.M.
|
S.M.
|
P8
|
Córrego Grande
|
S.M.
|
S.M.
|
S.M.
|
S.M.
|
P9
|
Córrego
Fazendinha
|
2,00
|
0,19
|
0,31
|
0,13
|
P10
|
Rio Corrente
|
S.M.
|
S.M.
|
S.M.
|
S.M.
|
S.M.:
Sem Medida realizada
3.3 Hipsometria
A imagem SRTM (90 m) foi utilizada para realizar o
fatiamento com as faixas de altitudes de 10 metros. Conforme o mapa
hipsométrico (Figura 4), a variação de altitudes estão entre as cotas de 440 a
660 m. A hipsometria no vale do Ribeirão Grande tem como fator topográfico os
menores declives e as menores altitudes de 440 a 540 metros, a área de encosta
se encontra entre as cotas de 550 a 660 metros.
Figura 4
– Mapa Hipsométrico na área prevista para o Parque/UC no município de Itajá.
A faixa de vale do Ribeirão Grande e de outros cursos
d’água se situa nas faixas de altitudes mais baixas de 440 a 470 metros, com
percentual de 4,46% da área do Parque/UC, conforme a figura 4. A maior
porcentagem se encontra nas cotas de 480 a 530 com 53,54%, mais da metade da
área do Parque/UC.
A faixa de transição entre as maiores e as menores cotas
é de 540 a 590 metros, onde estão concentradas áreas de encostas, que são áreas
com maior fragilidade ambiental, as mesmas localidades abrangem uma faixa de
cobertura vegetal.
Desse modo, há a necessidade de proteger esses
remanescentes para evitar futuros problemas ambientais como a aceleração dos
processos erosivos que ocasionam desgaste do solo e provocam assoreamentos em
cursos hídricos, como exemplo de nascentes e córregos.
As cotas entre 600 a 660 metros somando-se as classes de
altimetria registraram 22,71% de área, e são as áreas de cotas mais elevadas,
consistindo no topo dos morros.
Figura 5
– Classes hipsométricas da área prevista para o Parque/UC no município de
Itajá
3.4 Declividade
As categorias de declividades existentes na área em
questão representam as classes de relevos, plano a fortemente ondulado, não
tendo a presença do relevo montanhoso, com declividades superiores a 45%.
A área de fundo de vale possui as classes de declividade
0 a 3% e 3 a 8%, que corresponde a relevo plano a suave ondulado. A encosta
possui as classes de declividade 8 a 20% e 20 a 45%, que corresponde a um
relevo ondulado e fortemente ondulado. O topo possui a classe de declividade
dominante de 3 a 8%, que corresponde o um relevo suave ondulado, como
representado no mapa da figura 6.
Figura 6
– Mapa de declividade na área prevista para o Parque/UC no município de Itajá
A tabela 2 demonstra que a classe 0 a 3% compreende
17,12%, e a área de 3 a 8% representa 53,31% a maior classe de declividade
representando uma dissecação moderada ao relevo, mas as classes de 8 a 20% com
23,32% e a classe de 20 a 45% com 6,25%, são classes que merecem cuidados por
situarem dissecações moderada a forte. Considerando que os solos são frágeis
nessas áreas, devido à composição textural e à sua condição de relevo ondulado
a fortemente ondulado, deixam os solos com pouca coesão, propicio para
desenvolvimento de processos erosivos lineares.
O uso do solo e a falta de práticas conservacionistas são
fatores que podem aumentar e acelerar o potencial de erosão.
Tabela 2 – Classes
de declividade para o Parque/UC no município de ItajáDeclividade
(%)
|
Área (km²)
|
Área (%)
|
0 a
3
|
30,35
|
17,12
|
3 a
8
|
94,57
|
53,31
|
8 a
20
|
41,37
|
23,32
|
20 a 45
|
11,09
|
6,25
|
Total
|
177,39
|
100,00
|
3.5 Uso e Ocupação das Terras
O mapa de uso e ocupação da terra do Parque/UC (Figura 7)
foi obtido a partir da interpretação de imagem LANDSAT 5TM e classificadas em
quatro classes distintas, sendo elas: florestal, campestre, cultura temporária
e corpos d’água. Dentre as classes expostas, nota-se que as áreas florestal
(48,22%) e campestre (51,60%) são dominantes. Os corpos d’água, representadas
pelos açudes, são construídos para dessedentação animal.
A única área de cultura temporária está localizada na
bacia hidrográfica, neste aspecto somente destinado a subsidiar ração para o
gado, pois é uma área de cultivo de cana-de-açúcar.
A exploração antrópica é um fator importante de se
avaliar, e a ocupação campestre destinada a pastagens, tem como finalidade
subsidiar uma atividade muito exercida na área onde se pretende concretizar o
projeto de criação do Parque/UC, à criação de gado para corte e leiteiro.
As fazendas em geral possuem bebedouros de cimento para
dessedentação animal em diferentes pontos na propriedade. Mesmo assim, existem
açudes construídos principalmente em canais de primeira ordem (classificação de
Strahler) ou ainda o gado tem acesso direto aos canais, pois a maioria das
áreas de preservação permanente não se encontram cercadas. Portanto, tem a
pressão das áreas de pastagem com criação de gado sobre as áreas florestais e
os recursos hídricos.
Figura
7 – Mapa de uso da terra na área prevista para o Parque/UC no município de
Itajá.
Analisando a tabela 3, as áreas florestais são a segunda
maior classe de ocupação, caracterizando a área com boas extensões para criação
de reserva ambiental. Assim, quando se compara os dados da tabela com o mapa
apresentado acima, pode-se afirmar que se trata de um ambiente antropizado,
mas, há grandes áreas de reservas legais, de preservação permanente, sendo
viável para a execução de projeto para a criação de uma unidade de conservação
(UC).
Tabela 3 – Classes de uso e ocupação da terra para o Parque/UC no município de Itajá
Uso
da terra
|
Área (km²)
|
Área (%)
|
Florestal
|
85,55
|
48,22
|
Campestre
|
91,54
|
51,60
|
Corpos d’água Cultura
|
0,08
|
0,05
|
temporária
|
0,22
|
0,13
|
Total 177,40 100,00
4.
PRINCIPAIS PROBLEMAS AMBIENTAIS NA ÁREA EM ESTUDO
Os principais problemas ambientais constatados na área da
Fazenda São Miguel resultam da degradação do solo pela criação de gado, embora
muitas áreas de pastagens estão em boas condições como entre F1 e F2 (Figura 8,
a), mas a sul dessa área, na área E, a pastagem se encontra degradada pelo uso
intensivo para a criação do gado (Figura 8, b). Voçoroca é encontrada na área
E, na área de Argissolo, que vem se intensificado pelo pisoteio do gado (Figura
8, c).
Em um setor da voçoroca a mesma foi cercada, a expansão é
menor e tem a capacidade de criar vegetação nas laterais. Imediatamente a
montante dessa ocorrência um afluente do Ribeirão Grande (Figura 8, d) se
encontra assoreado, com margens erodidas, muito material depositado no leito e
um pequeno filete de água.
Figura 8
– Distintas condições de pastagens (a, b) e os processos erosivos resultantes
da fragilidade dos solos e uso intenso por pecuária (c, d).
Outro fator de impacto ambiental refere-se ao pastoreio de
gado no período seco com abaixa cobertura vegetal existente, sendo esta uma
prática inadequada por trazer maior exposição do solo aos processos erosivos.
Nessa esteira de compreensão, os estudos na área
comprovam como medidas mitigadoras que é necessário melhorar o manejo das áreas
de pastagem, visto que algumas delas apresentavam-se degradadas. Para isso, é
importante realizar a rotatividade de áreas de pastagem para não levar a
exaustão (evitar baixo porte vegetativo), principalmente durante o período de
estiagem.
Por iguais razões e ao ensejo da conclusão, é de se dizer
que as áreas florestais e os cursos d’água devem ser cercados para que o gado
não tenha acesso, considerando que nos trabalhos de campo houve constatação de
pastagens degradadas. Vale mencionar, que na área da Fazenda São Miguel ocorre
o processo de erosão acelerada, onde é verificada a erosão das margens e a
presença de voçoroca, a montante do P1 – figura 7.
5. REFERÊNCIAS
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Interpretation. 5 ed. New Jersey: Prentice Hall. 1992.
BRASIL – Legislação
Federal sobre o Meio Ambiente / Seleção, Compilação, Comentários e Notas
Remissíveis de Vanderlei José Ventura, São Paulo, 1992.
FRANCO, Nádia. Cerrado
recebe projeto para conservação da biodiversidade. 2016. EBC Agência
Brasil. Disponível em www.agenciabrasil.ebc.com.br Acesso em 20/01/2018
GOIÁS. SEMARH/FUNAPE. Proposta de Criação do Parque Estadual Tovacuçu, entre os Municípios de
Itajá e Aporé. Relatório Final. UFG. Jataí, 2013
IBAMA – INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS
RECURSOS NATURAIS NÃO RENOVÁVEIS – Roteiro
Metodológico para o Planejamento de Unidades de Conservação de Uso Indireto,
versão 3.0 – Brasília, agosto 1996.
LEFF, Enrique. Saber
Ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder.
Petrópolis: ed. Vozes, 2001. Caps. 1, 4, 8, 16, 23, 25, 29 e 30.
MAGALHÃES, Juraci Peres. A Evolução do Direito Ambiental no Brasil. São Paulo: Oliveira
Mendes, 1998.
MARIANO, Z. F. A importância da Variável Climática na
Produtividade da Soja no Sudoeste de Goiás. 2005. 168 f. Tese (Doutorado em
Geografia) – Universidade Estadual Paulista, São Paulo, Rio Claro, 2005.
PROCOPIUCK, Mario. Políticas
Públicas e fundamentos da administração pública: análise e avaliação,
governança e rede de políticas públicas, administração judiciária. São Paulo:
Atlas, 2013.
WAINER, Ann Helen. Legislação Ambiental Brasileira. Rio de Janeiro: Forense, 1991.
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Hebert Mendes de Araújo Schütz é Oficial de Justiça do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, mestre em
Direito Agrário e doutorando em Geografia pela UFG.
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