domingo, 26 de abril de 2020

Representação Sindical: Os desafios de ser dirigente em tempos de Covid-19

OS DESAFIOS DE SER DIRIGENTE EM TEMPOS DE COVID-19

Por Joselito Bandeira Vicente

Exercer o papel de dirigente classista é um grande desafio, pois o individuo passa a exercer a função de trabalhar por uma coletividade e atender aos seus anseios e expectativas com a atribuição de lidar com as mais diversas formas de pensar e desejar que cada ser, integrante dessa categoria, espera ver atendido.

O cenário atual, imposto pela decretação, pela Organização Mundial de Saúde, de pandemia pelo vírus COVID-19, tem provocado as mais diversas reações humanas em tempos de distanciamento social, pois isso contraria a natureza social do ser humano.

Uma entidade de classe lida com a difícil missão de buscar atender às demandas e interesses da coletividade que se propõe a representar, mas começar essa frase com “entidade de classe” é um eufemismo para substituir a parte humana da entidade, que é sua diretoria, juntamente com os filiados, que trabalha nos propósitos já mencionados, e tem de lidar com diferentes graus de percepção de mundo e consciência mental, além das variações de caráter e intelecto; escalas de valores éticos e morais e posicionamentos políticos partidários e espectros ideológicos dos mais diversos.

Ao se assumir o múnus de diretor de entidade classista o combustível que move essa pessoal, certamente é o proposito de servir e trazer resultados que agradem, senão a todos, à maioria dos membros da categoria, é buscar valorização e reconhecimentos, respeito e dignidade a essa coletividade.

É bastante compreensível que as circunstâncias atuais tenham afetado os ânimos e as emoções das pessoas, mas, as regras de boa urbanidade e bom senso devem prevalecer nas relações humanas, afinal, somos racionais e temos, diferente dos demais animais, a habilidade de sabermos fazer escolhas conscientes e não agirmos por meros instintos.

Hoje, ocupando o cargo de diretor vice-presidente do SINDOJUSPB e de diretor legislativo da AFOJEBRA, tenho testemunhado as aflições e angustias da categoria de um modo muito mais intenso e detalhado, que quando era apenas um filado à entidade, e confesso que com certa decepção, vejo que muitas vezes a base trata os dirigentes como se fossem “bois de piranhas” que devem ser lançados ao sacrifício para que os demais passem ilesos. Não quero aqui fazer parecer que esteja reclamando do papel de dirigente, pois tenho a exata dimensão do que significa ocupar um cargo assim, mas, o comungo com outros dirigentes de entidades, inclusive a nível nacional, é que certa vezes nos ressentimos de uma maior participação com espírito coletivo, por parte dos filiados, que na grande maioria das vezes apenas buscam as entidades para a solução do seu problema pessoal, para acomodar o que lhes convém, ou, como diz o diligente presidente do SINDOJUSPB, Benedito Fonseca, vemos os “guerreiros de facebook” que são ativos, críticos e participativos nas redes sociais, mas que não comparecem a uma só assembleia geral ordinária da entidade, não prestigiam as entidades quando promovem eventos em suas cidades, não têm coragem de enviar documentos ou mesmo assinar uma procuração para que o advogado impetre uma medida judicial em defesa dos mesmos, quando são ofendidos e desrespeitados pelos juízes ou outros servidores, mas querem uma atitude da instituição classista, sem sequer se disporem a prestar um depoimento na corregedoria, pois, esperam que “os bois de piranhas” resolvam tudo sem um só esforço pessoal.

Nesses tempos de pandemia, pelo COVID-19, muitas vezes as entidades recebem pedidos e queixas até para resolverem problemas de caráter absolutamente privados dos seus filiados. As redes sociais permitiram uma comunicação mais dinâmica e não são raras às vezes em que filiados chegam ao limite do desrespeito ou da grosseria, se mandarem uma mensagem para um diretor e não forem imediatamente respondidos, como se os diretores também não tivessem problemas e estivessem, como máquinas, à disposição em tempo integral e com a obrigação de estar monitorando os aplicativos e redes sociais 24 horas por dia. Já vi gente que nem filiado à sua entidade é, e cobrando respostas às 02:30 da madrugada, e se revoltando por não ter a resposta naquela hora. Só consegui pensar que tratava-se de alguém com algum problema sério de ordem psiquiátrica ou sob efeito de alguma substância lícita ou ilícita, pois, vi como algo desrespeitoso e grosseiro se portar daquela forma àquela altura da madrugada.

Avulta de importância enfatizar que significativa parte dos filiados age com urbanidade, bom senso, e a boa educação e respeito.

Não estou aqui pedindo paparicos, reverência ou nada que o valha, mas tão somente desabafando depois de testemunhar, nas redes sociais, determinadas posturas de integrantes das bases das entidades, e de também ver/receber lamúrias de colegas dirigentes que se sentem esgotados por atitudes que chegam a ser ofensivas.

É muito importante que haja participação de todos, que estejamos de mãos dadas, que haja engajamento da categoria para compartilhar tudo aquilo que eleva, dignifica, promove, enfatiza, protagoniza a nossa a classe, é imperativo que surja em nós, especialmente nesses tempos de isolamento social, a percepção de que somos membros de uma mesma categoria, que estejamos dispostos a ser colaborativos, que o uso das redes sociais seja, efetivamente, uma ferramenta que nos integre e nos eleve, que elas sejam usadas para compartilhar aquilo que as entidades promovem em prol do bem comum. Se somos capazes de compartilhar piadas, “vídeos cacetadas” correntes das mais diversas, também temos de ser capazes de compartilhar aquilo que as entidades estão produzindo com o fito de dar o protagonismo que nossa categoria precisa ter.

União, participação, altruísmo, solidariedade, respeito, bom senso, estes devem ser valores e sentimentos presente não só no nosso agir, mas, também no nosso interagir, vamos estar juntos, participativos, colaborativos, solidários e prontos a pensar coletivamente, abertos a apoiarmos e somarmos, e não o contrário. A frase pode até ser rotulada como um clichê, mas, uma corrente é tão forte quanto o seu elo mais frágil, e se formos fortes, unidos colaborativos e confiantes nas nossas entidades e nos seus dirigentes, se estivermos abertos e dispostos a fazermos a diferença e agirmos com confiança naqueles que escolheram dedicar parte dos seus tempos e de suas vidas a defender e trabalhar por nossa categoria, todos sairemos dessa crise muito mais fortes.

Peço desculpas pelo desabafo, que não quer ser agressivo nem desrespeitoso, mas apenas provocar a reflexão sobre como podemos estar juntos em tempos de distanciamento social.


Joselito Bandeira Vicente é Oficial de Justiça do TJPB, Diretor Vice-Presidente do Sindojus-PB e Diretor Legislativo da Afojebra. 

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