terça-feira, 5 de novembro de 2013

‘Apagão digital’ afeta 130 mil processos na Justiça do Trabalho do Rio


  • Em outubro, sistema eletrônico só funcionou sem interrupções em dois dias, segundo dados do TRT-1
  • Tempo médio de julgamento aumentou 71%: de 222 em 2012 para 380 este ano 
Documento reuniu 22 mil assinaturas de advogados pedindo que a Justiça aceite, 
provisoriamente, petições também em papel - Divulgação/OAB-RJ
 

Documento reuniu 22 mil assinaturas de advogados pedindo que a Justiça aceite, provisoriamente, petições também em papel Divulgação/OAB-RJ RIO - A Justiça trabalhista do Rio de Janeiro sofreu um “apagão tecnológico” em outubro. O sistema de Processo Judicial Eletrônico (PJE), instalado no Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região (TRT-1), teve no mês apenas dois dias de funcionamento sem interrupções - 21 e 25. Com isso, de acordo com a OAB-RJ, a movimentação de cerca de 130 mil processos que tramitam no estado ficou praticamente paralisada, de acordo com a seção regional da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro (OAB-RJ). O prazo médio para a tramitação de uma ação trabalhista no Rio de Janeiro subiu de 222 em 2012 para 380 este ano, um aumento de 71%, de acordo com dados do TST de janeiro a junho.

O sistema começou a ser usado em janeiro, como parte de um projeto piloto do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para unificar os diferentes sistemas digitais usados nos tribunais do país. De maio para cá, as interrupções foram se tornando mais frequentes até atingirem o ápice, em outubro. Advogados reclamam que a instabilidade do sistema dificulta o preenchimento das petições on-line aos juízes, que tem que ser reiniciado a cada interrupção do funcionamento, que podem durar de poucos minutos a mais de quatro horas, e o envio dos documentos relacionados aos casos.

Levantamento da OAB-RJ aponta que há 44 sistemas nos diversos órgãos do Poder Judiciário no país, que não se comunicam. O presidente da entidade, Felipe Santa Cruz, tem reunião marcada nesta terça-feira à tarde com o presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), ministro Carlos Alberto Reis de Paula, para discutir o assunto. Santa Cruz vai entregar a Reis de Paula um abaixo-assinado com 22 mil assinaturas de advogados pedindo que a justiça trabalhista aceite, enquanto o sistema não se normaliza, petições feitas também em papel.

- A OAB não é contra o processo eletrônico. É importante frisar isto. Ninguém acha uma maravilha o processo em papel. Mas queremos um sistema que funcione.

Santa Cruz lembrou o exemplo da Receita Federal, que permitiu que os contribuintes continuassem a enviar os formulários em papel por pelo menos dois anos antes de digitalizar completamente o processo de declaração do imposto de renda.

- A implantação do sistema está patinando há quase um ano, e temos sido pacientes - disse.

Paralisações somaram quase 4 horas na segunda-feira

O juiz federal Saulo José Casali Bahia, conselheiro que preside a Comissão de Tecnologia da Informação e Infraestrutura do do CNJ e gerencia a implantação do PJE, diz que as falhas tem sido pontuais e não afetaram os processos, já que nenhum prazo foi perdido devido às instabilidades. Ele destacou que nos 24 tribunais em que o sistema está instalado, a recepção tem sido boa.

- Em São Paulo, por exemplo, a avaliação dos usuários é bem melhor (que no Rio). O que ocorre é um número efetivamente alto de acessos. Não acredito que as falhas tenham a magnitude que a OAB pretende. Retomar o processo de papel é um retrocesso - afirma Bahia, que disse desconhecer os dados que apontam o aumento do tempo médio de resolução dos casos no Rio de Janeiro.

Somente nesta segunda-feira, foram cinco episódios de paralisação, que somaram 219 minutos, ou 3 horas e 39 minutos - quase metade de um expediente normal de oito horas, nos moldes da CLT.

O PJE parou às 14h35 e só voltou quase uma hora depois, às 15h27. Apenas 21 minutos depois, nova falha, que durou até 16h14. Novamente, 20 minutos depois, nova queda, que se estendeu até 17h02. Dez minutos depois, mais uma falha, até 17h36. Dez minutos depois, a última instabilidade, que se estendeu até 18h15.

- O CNJ alega que o problema não é do sistema, é da rede. Se tivessem feito uma previsão mais acertada do volume antes de iniciar, isto tudo poderia ter sido evitado - diz o presidente da OAB-RJ.

Número de novos processos cresceu 0,5% em outubro

O juiz federal José Hortêncio Júnior, responsável pelo gerenciamento do PJe-JT, juiz auxiliar da presidência do Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT), informou por e-mail que o tribunal recebeu em outubro 16.286 novos processos por meio do PJe – cerca de mil por dia útil.

"Em outubro de 2012, quando os processos eram recebidos só em papel, foram 16.191 – praticamente o mesmo volume. Esses números mostram que o sistema vem funcionando, ainda que tenha havido indisponibilidades", argumenta, comparando os sistemas distintos.

Segundo ele, a equipe que cuida do sistema no CSJT) "já identificou o problema", ou seja, a grande quantidade de "consultas simultâneas feitas na aplicação, seja por servidores, magistrados, advogados e consultas automatizadas" e "já trabalha para saná-lo".

"Uma equipe com dedicação exclusiva se dedica às melhorias de desempenho e estabilidade, inclusive com a participação do CNJ. As melhorias em desenvolvimento contam inclusive com a participação de representantes da OAB na proposição de medidas que satisfaçam as necessidades dos advogados", disse.

No ano passado, segundo dados disponíveis em seu site, o TRT-1 recebeu 787.910 ações trabalhistas e julgou 774.086, incluindo as protocoladas em anos anteriores, deixando resíduo de 223.937. Neste ano, até julho, ingressaram no tribunal 481.306 processos, e 207.477 foram concluídos, deixando um saldo de 207.477 por julgar.

Fonte: O Globo

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